"A Direção do Colégio José de Alencar parabeniza a aluna da 8ª série, Adriana Lopes dos Santos,por ser a finalista municipal da Olimpíada de Língua Portuguesa com a crônica "Minha São Chico do Frio"."
Aluna: Adriana Lopes dos Santos
Aluna: Adriana Lopes dos Santos
Título da crônica: Minha São Chico do
frio
Professora: Nara Ione Blanco Marques
Sentada à beira do Lago São Bernardo, principal ponto
turístico de minha cidade, em vez de encontrar inspiração em sua beleza
poética, encontro inspiração apenas no vento cortante das sete e meia da manhã,
que, ajudado pela brisinha, vem me gelar os dedos e me lembrar de fatos do
último inverno.
Moro em São
Francisco de Paula, carinhosamente chamada de São Chico. É uma cidade lembrada,
fria, muito fria. O clima quase polar aqui de São Chico atrai muitos turistas que, não
sei como podem, se fascinam por alguns graus abaixo de zero. Mas não é mentira
que os cidadãos serranos que levantam cedo têm que sair de casa usando um
casaco por cima do outro.
E nessa
cidade que, no inverno passado, a neve entrou sem pedir licença e sem aviso
prévio, tornando brancos os verdes campos da zona rural e invadindo as vidas
dos moradores da zona urbana, nesse dia, de chão e céu brancos, saí de casa
para os compromissos da manhã, pois, como dizem as músicas gaúchas, “sou prenda
guapa que não se assusta com o frio”. Passando pelas ruas, cobertas com o
tapete gelado, via adultos e crianças brincando na neve. Risos eram ouvidos e a
felicidade infantil e adolescente com a neve acordava a vizinhança. Eu
acompanhava com os olhos as crianças bem agasalhadas, com toucas, luvas... Nem
deviam sentir aquele frio intenso. E quando chegassem em casa, provavelmente
encontrariam uma lareira, fogão à lenha ou estufa, além de um delicioso café da
manhã... Tudo para esquentar os pequenos. Com esse pensamento entrei em uma rua
secundária. Depois de alguns metros, me deparei com uma cena que era, ao mesmo
tempo, alegre e triste.
Três
crianças brincavam com a neve, fazendo bonecos, jogando bolinhas... Mas, ao contrário
das outras crianças das quais falei, estas usavam roupas visivelmente finas, e
apenas uma delas usava luvas furadas.
O que me
surpreendeu foi a alegria: as crianças riam, pulavam, corriam... Era uma
alegria genuína, verdadeira, humilde, mesmo com as circunstâncias. É difícil
ficarmos tão alegres com o frio, mesmo agasalhados. Porém, aquelas crianças...
Assim
pensando, continuei a caminhar. Eis que, ao virar uma esquina, vejo num homem, um
senhor de idade, de barbas brancas, sentado sob o toldo de uma loja, tremendo
de frio. Ele usava trapos, panos realmente finos e uma touca. Passei por ele me
perguntando se eu não podia ajudá-lo. Mas o que eu, jovem serrana, escritora e
palhaça por prazer, poderia fazer para ajudar aquele pobre homem friorento? Eu
tinha vontade de ajuda-lo, mas para casa não podia levá-lo, e agasalhos de
sobra eu não tinha.
Pensando nisso,
cheguei à escola. Meu primeiro pensamento foi voltar para casa, mas uma ideia
melhor me ocorreu.
Voltei pelo
mesmo caminho e vi algo que me deixou feliz. Uma mulher carregava o senhor friorento
para dentro de sua casa. Sim, em São Chico, como diz o hino, há “gente forte e
hospitaleira” e solidária também.
Cheguei,
então, ao lugar onde as crianças brincavam e coloquei em prática minha ideia: Por
que eu haveria de voltar para casa, para debaixo das cobertas se havia gente ali,
no frio, sem poder melhorar suas vestimentas? Se não podia ajudá-los, que me
juntasse a eles. Tirei a jaqueta e pedi licença para entrar na brincadeira.
Agora o sol
já saiu de trás dos pinheiros, mas não é suficiente para esquentar, pois parece
que este sol tem medo de entrar na manhã serrana. O sol é realmente tímido por aqui,
porém quando vem, se solta. Os turistas e cidadãos que costumam caminhar em
volta desta beleza natural serrana já chegam, e eu acho melhor ir para casa,
afinal hoje à tarde tenho um encontro marcado com os três amigos que conheci no
inverno passado, na neve.
Nesta cidade,
no meu amado Rio Grande do Sul, a vida segue simples e bela, daqui a pouco acaba
de novo o inverno e vem a primavera e o verão quando a cidade se cobre de
hortênsias e quase todos se esquecem dos rigores do inverno, exceto quem mais
sofreu com ele e com sua situação, porém ainda há aqueles que se esquecem das
dificuldades passadas no inverno, ou as trocam pelas lembranças das amizades
conquistadas... Afinal, moramos em um lugar onde raramente acontecem desastres
e onde a vida é feliz e a natureza tem notável participação.